O 25 de Abril de 1974 em Portugal é um dos feriados mais importantes do país, conhecido como Revolução dos Cravos. Neste dia, após 41 anos de ditadura militar, o povo português revoltou-se e o país foi finalmente libertado. Venha descobrir mais!
Na manhã de 25 de Abril de 1974, um movimento militar organizado (MFA, ou Movimento das Forças Armadas) ocupou vários pontos estratégicos em Lisboa e derrubou a ditadura do Estado Novo que tinha sido implantada em 1926. O objetivo dos Capitães de Abril era acabar com a guerra colonial, iniciada 13 anos antes, eleições livres e a geral implementação de uma democracia.
A ditadura portuguesa começou com um golpe de Estado militar a 28 de Maio de 1926. Desde então e até 1933, Portugal viveu um período durante o qual liberdades e direitos fundamentais foram suprimidos.
Entre 1926 e 1933, António de Oliveira Salazar seria uma engrenagem fundamental na máquina ditatorial. De facto, foi com o seu impulso que, passo a passo, a máquina e as políticas ditatoriais – que mais tarde seriam consagradas na Constituição de 1933 – iriam tomar forma: censura, polícia política, propaganda, e leis repressivas.
O período seguinte estende-se de 1933 a 1968 e corresponde a uma fase da ditadura caracterizada por um estado corporativo e uma ditadura fascista, com a aprovação em 1933 de uma nova Constituição, que estabeleceu censura, proibiu associações sindicais, associações secretas e a formação de novos partidos políticos e criou a PIDE – uma polícia estatal repressiva.
Forças sociais e políticas continuaram, no entanto, a sua luta contra a ditadura, nomeadamente graças ao impulso do Partido Comunista Português (PCP) em clandestino. Esta luta foi enfrentada com execução, mortes, e tortura – levadas a cabo pela polícia política.
Ao mundo exterior, Salazar tentou esconder a realidade do país – mentindo sobre o que se passava tanto em Portugal como nos territórios ocupados. Após a II Guerra Mundial, todos os países europeus foram “forçados” pela NATO a retirar-se das suas respectivas colónias. Isso não aconteceu com Portugal. Salazar fez uso do chamado luso-tropicalismo – a ideia de que Portugal era diferente dos outros países na forma como tratava os nativos nos territórios ocupados; que os portugueses estavam lá para fazer o bem. Isto é, claro, falso.
A luta pela libertação do jugo colonialista, dentro das colónias portuguesas, seria fomentada pelo fim da Segunda Guerra Mundial e pela independência alcançada por muitas colónias que tinham estado sob o domínio dos estados europeus.
Com início em Angola, em 1961, a guerra estendeu-se à Guiné-Bissau e Cabo Verde, em 1963, e a Moçambique, em 1964. Nestes territórios sob exploração colonial feroz e intensa, o povo ansiava alcançar a independência que os libertaria de um jugo secular.
Provavelmente ao contrário do que o fascismo português esperava, o início da guerra colonial foi o catalisador para o desenvolvimento de ações e teorias anti-colonialistas. A oposição à guerra colonial estendeu-se assim a diferentes setores da população (incluindo dentro da própria Igreja). Neste processo de combate à guerra, a oposição que foi gerada dentro das Forças Armadas foi também fundamental.
Entretanto, em 1968, Salazar (que morreu em 1970) foi substituído por Marcelo Caetano como Presidente do Conselho. O período entre 1968 e 1974 foi assim caracterizado pela incapacidade física e intelectual de Salazar, numa altura em que Marcello Caetano, no meio de uma crise do regime, tentou salvar a ditadura fascista com uma grande manobra demagógica.
Uma crise económica começou a instalar-se em Portugal. Esta crise, combinada com a incapacidade do regime para resolver os problemas económicos e sociais; a guerra colonial; o dissentimento e a deserção e emigração, tornaram possível uma situação conducente ao derrube da ditadura e ao consequente surto de uma revolução.
Em 1973, um grupo de oficiais de carreira iniciou um movimento corporativista que gradualmente cresceu em tamanho, transformando as reivindicações corporativistas iniciais num desejo de mudança de regime. Foi este movimento que levaria, a 25 de Abril de 1974, à Revolução dos Cravos.
Às 22:55h, a canção ‘E depois do Adeus‘ de Paulo de Carvalho, foi transmitida por uma rádio em Lisboa, o primeiro sinal do avanço das operações. Às 00h20, os militares que ocuparam a estação de rádio Renascença deram o segundo sinal, com a transmissão da ‘Grândola Vila Morena’ de Zeca Afonso. Às 4h20, a Rádio Clube Português leu o primeiro comunicado do Movimento das Forças Armadas (MFA).
Quando se tomou consciência do que estava a acontecer, as forças populares juntaram-se à revolta militar, e é precisamente o fruto desta união – revolta militar e revolta popular – que dá origem à Revolução.
Quando os capitães de Abril, organizados no MFA, deram a conhecer ao país os seus objetivos – o fim da ditadura e o fim da guerra colonial, com a consequente e necessária construção de um Portugal democrático – forças progressistas e organizações políticas revolucionárias rapidamente deram o seu apoio ao MFA.
As forças revolucionárias, lideradas por Salgueiro Maia, avançaram então para o escritório principal do governo, no Terreiro do Paço (Lisboa). Foi então que Celeste Caeiro, uma trabalhadora de um restaurante, começou a distribuir cravos aos soldados, que os punham nos seus uniformes e armas, para simbolizar que a revolução era pacífica – dando origem ao nome Revolução dos Cravos.
Após algumas horas de protestos e negociações, Marcelo Caetano rendeu-se ao General Spínola e ao MFA. Entretanto, uma grande multidão já protestava no exterior da sede da PIDE, que finalmente cedeu no dia seguinte. Depois disso, o MFA e as forças políticas formaram a ‘Junta de Salvação Nacional’ e o General Spínola foi temporariamente nomeado Presidente da República e anunciado como tal na televisão nacional.
O Programa do MFA era constituído por três D’s – Democratizar, Descolonizar e Desenvolver. E estes valores foram imediatamente postos em ação. As primeiras medidas tomadas foram a abolição da PIDE e da censura em todas as frentes. Sindicatos de trabalhadores e o estabelecimento de diferentes partidos políticos foram também imediatamente legalizados. O Dia do Trabalhador – o 1 de Maio – foi celebrado livremente e em massa em todo o país, especialmente em Lisboa, onde mais de um milhão de pessoas se reuniram.
Negociações para a descolonização dos territórios africanos ocupados também tiveram início. Este foi um processo difícil que resultou num movimento maciço de ‘retornados’ (soldados que tinham estado estacionados nas colónias durante anos) de volta ao país.
Após um período difícil de negociações políticas, a 25 de Abril de 1975 – um ano exacto após o facto – Portugal realizou as suas primeiras eleições livres para a Assembleia Constitucional, que finalmente afirmou um sistema democrático no país.
Então, em 1976, o povo português finalmente votou nas suas primeiras eleições para o Parlamento, que o Partido Socialista (PS) venceu, fazendo de Mário Soares o primeiro Primeiro-ministro democraticamente eleito do país. Foram também realizadas eleições para a presidência da República, com Ramalho Eanes a ganhar e a deter o título durante 10 anos (o máximo permitido).
A Revolução dos Cravos é amplamente vista como um dos maiores dias da história portuguesa e o seu legado permanece não só na memória colectiva, mas também no cenário sócio-político. É um feriado nacional e todos os anos são realizadas muitas celebrações e marchas em todo o país para o celebrar.
Existem celebrações do 25 de Abril em todo o país, mesmo nas mais pequenas vilas. Contudo, as festividades maiores têm lugar nas principais cidades, especialmente Lisboa e em segundo lugar Porto.
É obrigatório caminhar pela Avenida da Liberdade – uma marcha que junta anualmente milhares de pessoas. Mas há também outras actividades em que se pode participar:
Depois de uma cerimónia e homenagem no Museu Militar, o povo marcha de lá para a Avenida dos Aliados, onde há discursos e concertos da Comvinha Tradicional e Chulada da Ponte Velha – dois grupos de intervenção. Pode consultar as atividades para outras cidades aqui, ou no sítio web do seu respetivo município.
“Foi então que Abril abriu / as portas da claridade / e a nossa gente invadiu / a sua própria cidade” – Ary dos Santos
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